3 poemas de Ana Maria Vasconcelos

Salivas de carnaval
das salivas de carnaval
ilícitas, ágrafas
insistimos
em localizar rotas, como se
houvesse qualquer norte em decupar goles
como se
(agora chove, esse desastre)
o estrago dos corpos já não profetizasse
que toda contramão é também cortejo
(cinzas)
para o encontro
Véspera
da clausura, onde as horas roem
as pegadas ainda nos sapatos
limpíssimos,
não estou, e abafo
com as coxas teus ouvidos – a saber:
desse ângulo
(nunca te disse) teu rosto parece
dois versos do Pasolini
Guilhotina
escavados em monólogo
milimétricos
abismos
precipitam a cada sílaba;
todo intervalo, uma sangria
que não aconteceu
que ainda não
                                    até que
um dia, um trem

Ana Maria Vasconcelos (1988, Maceió/AL) é doutoranda em Teoria e História Literária (Unicamp). Em 2022 está lançando seu segundo livro, Eram brutos os barcos, pela editora Trajes Lunares.
Todos os poemas compõem o novo livro de Ana Maria; a obra está em pré-venda no site da editora alagoana. Compre aqui.

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