avistar um boto-cor-de-rosa
feito carência de pétala afago nos lírios a sombra a suavidade da fuga romper a relva o sinônimo espelhar uma gaivota mirar o dorso da [língua copiar em órbita os sinos do sol médio crasso - retornar - resgatar a pétala remendar [as linhas de uma pétala dizer as camadas da pétala se esconder da noite se esconder na noite [até irremediavelmente avistar um boto-cor-de-rosa
o mar continua o mesmo
sussurrar segredos numa árvore e, assim, bulir as linhas do corpo quase não se pode alinhar preto no branco enfastiar as manhãs os sinos o relógio esquecer que é dia e que o mar continua o mesmo esquecer a margem sonhar com peixes é sonhar com deus
o astronauta da saudade com a boca toda vermelha
(do livro Procurar o mar é exercício noturno)
um dia sonhei com um homem estacionado no mar o homem estacionado no mar sentia dores nos joelhos estava pronto e cinza de meias nos pés e capacete branco o homem pintava os lábios e sentia um vento na pele um novo vento esparso e azul um dia o homem estacionado abriu os olhos e o mar vazio o mar nas pernas do homem soprava uma lua cor de astro veludo e estrelas um dia sonhei com um homem o homem pintava os lábios deitava homem dormia pássaro
Érika Santos é poeta. Nasceu e vive em Maceió, Alagoas. É autora do livro Procurar o mar é exercício noturno (Editora Penalux). Pesquisa na área de ciências da linguagem em análise do discurso. Integra o grupo de pesquisa Discurso e Ontologia – GEDON. Em 2021, participou da edição e assinou a revisão da coletânea QUEBRA: poesia negra contemporânea MCZ (editora Phillos).
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