3 poemas de Érika Santos

avistar um boto-cor-de-rosa
feito carência de pétala afago nos lírios a sombra a suavidade da fuga
romper a relva o sinônimo espelhar uma gaivota mirar o dorso da 
                                                                           [língua copiar em órbita
os sinos do sol médio crasso - retornar - resgatar a pétala remendar 
                                                                           [as linhas de uma pétala 
dizer as camadas da pétala se esconder da noite se esconder na noite 
                                                                           [até irremediavelmente 
avistar um boto-cor-de-rosa
o mar continua o mesmo
sussurrar segredos numa árvore e, assim, bulir as linhas do corpo
quase não se pode alinhar preto no branco
enfastiar as manhãs os sinos o relógio
esquecer que é dia e que o mar continua o mesmo
esquecer a margem
sonhar com peixes é sonhar com deus

o astronauta da saudade com a boca toda vermelha
(do livro Procurar o mar é exercício noturno)

um dia sonhei com um homem
estacionado no mar
o homem estacionado no mar
sentia dores nos joelhos
estava pronto e cinza
de meias nos pés e capacete branco

o homem pintava os lábios e
sentia um vento na pele
um novo vento esparso e azul

um dia o homem estacionado
abriu os olhos e o mar vazio
o mar nas pernas do homem
soprava uma lua cor de astro
veludo e estrelas

um dia sonhei com um homem
o homem pintava os lábios
deitava homem dormia pássaro

Érika Santos é poeta. Nasceu e vive em Maceió, Alagoas. É autora do livro Procurar o mar é exercício noturno (Editora Penalux). Pesquisa na área de ciências da linguagem em análise do discurso. Integra o grupo de pesquisa Discurso e Ontologia – GEDON. Em 2021, participou da edição e assinou a revisão da coletânea QUEBRA: poesia negra contemporânea MCZ (editora Phillos).

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