Olhos de buraco negro flertando com o abismo
Aquela carne branca
pálida insípida
dançando timidamente na pista de dança
o pouso celeste
dos olhos a constelação
e um buraco negro
aqueles olhos daquela carne branca me olhando meio arco-íris meio embriagado um olho de enigmas martelando minha cabeça
serpente das águas
vestido de silêncios
os sinos na mesma melodia
tocavam Dancing on my own
e as pernas rendidas
o mar entre as pernas naquela pista de dança
o som do mar
que pista
ondas de anjo caído
naqueles lábios de corsa
enlaçados pela Vodka
“se libertar de si mesmo, soltar-se ao som”
o feitiço
daquela retina
daquela carne branca
Bússolas cotidianas desmembradas sob a pele de um ser só
Uma criança sem membros no coração de um homem
e o coração no chão
as palavras escritas nas nuvens
e o coração numa poça de sangue
visivelmente sem norte
sem bússolas
sem telhados
sem ponteiros de relógio
Kronos é desmembrado em seu peito
e o homem, que sou eu,
traz na cabeça o apocalipse.
Um meteoro cai na caverna de seus olhos
e o que era são e cristalino
transforma-se em matéria bruta nua
Da língua: carruagens de fogo labaredas cinzas mundos desflorados
Nem Buda, nem Gandhi
Nem Cristo, nem Gaia
abafam o grito do meu
desassossego.
Não peço mais nada
apenas profecias de sonhos tranquilos
Ou que me abram o corpo ao meio
de uma vez: assim poderei ver o que tanto me sangra
o que tanto me inclina ao desespero
há um deus morto nas entranhas
Jamerson dos Santos Farias Soares, 24 anos, ator formado em Artes Dramáticas na Escola Técnica de Artes da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), poeta aprendiz, jornalista, nasceu e ainda mora em Maceió. É ator e assessor de imprensa das companhias teatrais Claricena e Teatro da Poesia. Já trabalhou como repórter fotográfico no jornal O Dia Alagoas, e como repórter no portal G1 Alagoas. Já atuou na área de comunicação comunitária nas regiões em vulnerabilidade social do estado no projeto de extensão Universidade Popular, por meio do Bureau de Comunicação Comunitária. Participou de oficinas de escrita criativa no Sesc Alagoas, e de coletâneas de poemas alagoanos e nacionais.