3 poemas de Rodrigo Lobo Damasceno

Leia três textos inéditos do poeta baiano

VISTA DA PASSARELA DO PIQUES
          erês terribles das zonas metropolitanas
menines da era da retromania e do autotune
balaclavas na cara
caras de Rimbaud de IA e de Diabluma
(preces ao arco-íris)
leia na camisas do PSG e nas paredes:
A.C.A.B.
O ABC do Underground

imigrantes, desterrados
terroristas e leitores de Bataille
mar de bombetas
grafites de Bin Laden
máscaras de luchadores e de palhaços
funk de terror
freaksamba
trapstars de Osasco
crias do caos e do circo
cavalos do cão
brigadistas do ódio
sons da língua espanhola
e do canto da Gaviões da Fiel
ex-diagnosticados
extremistas da experiência
extraditaxs da pólis
curadores do museu da ideologia francesa e do imaginário
filhos de punks e do wifi
palestina livre do rio ao mar
portadores ativos de todos os vírus possíveis da linguagem
anjos com asas de energético
intoxicados
demônios da garoa e do toró
focos amarelos na paisagem
faróis e camisas do Cólera
noite de coração partido e corote
HEART OF GLASS
noite elástica
leve
new wave e primavera
ela levita de choker e calças levi's
se alevanta
de pileque e medalha
de prata
pique anos oitenta
escuta os ruídos das flores
nas estações de rádio das diásporas
entra nos territórios platônicos
de espelhos e alamedas
de fetiches e conceitos
e carrega nas costas as tranças
e uma cesta com cachos
de joias e frutas
cartas de amor
e antialérgico
cartas de amor
e spray de pimenta
cartas de amor
e cocaína
cartas de amor
e acessórios de couro
poetas não-apadrinhados
e tarólogas encaracoladas,
a noite é grande e dos imigrantes
pontas de lança das esperanças
república das capulanas
punks
luzes de táxis e de xiaomis
pó e pólen nas pétalas na avanhandava
ideogramas talhados em lâmpadas
avenidas
sambas
um leviatã se alevanta
avenidas
improvisos
sem polícia por perto
paulistas à paisana
noite elástica
leve
new wave e primavera
coração de vidro
pedra
MASCARADA
a poeta e rainha do lip sync
afirma que a poesia se faz
apenas
com palavras
- e casos psiquiátricos
nunca descritos
até o DSM-5
(ruídos, no caso)
logo ela, a mais frita
é ainda a mais mallarmaica
entusiasta dos naufrágios
e das palavras da tribo
flautista encantadora de cobrinhas
de haxixe
violinista do Titanic
regionalista do quarteirão
chamada La Llorona
torera e antropóloga contra naturam
ciborgue
cria do cosmopolitismo dos pobres
e das pensões de imigrantes
pintora empenhada na criação da cor local
pros deslocados
adicta dos lances aleatórios dos dados
em noites de
estrela
solitude
sinuca
ketamina
rock triste
dança com sapatos de vidro
e se diz crucificada
pelo sistema
suicidada
da sociedade
Artaud solitária de Spinetta
de unhas
pintadas de verde
maldita
a poeta e rainha do lip sync
afirma

Rodrigo Lobo Damasceno (1985) nasceu e cresceu em Feira de Santana, agreste baiano. É poeta, ensaísta e revisor. Publicou os livros Casa do Norte (2020) e Limalha (2023), ambos pela Corsário-Satã.

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